Será que suas certezas levam você para o lugar certo?

calvintrampolin11

 

Depois de quase dois anos de dedicação intensiva às funções de CEO, Frederico finalmente tirou férias com a família.
Dez dias em um chalé fantástico de frente para o mar, em uma ilha paradisíaca.
Frederico estava tão feliz que resolveu atender ao pedido de seu filho Igor de 12 anos.
O menino queria ir ao luau que aconteceria à noite ali na praia.
Frederico comprou um colar de flores para sua esposa, vestiu uma bermuda branca e lá foram os três para a festa tropical.
Além da decoração típica e das comidas exóticas, lindas dançarinas de hula em volta de uma imensa fogueira completavam o ambiente dos mares do sul.
O garoto Igor ficou encantado com a performance das moças e com a permissão dos pais, aproximou-se delas para melhor apreciar o show.
Foi quando a fogueira estalou e uma chispa em brasa o atingiu no braço.
Igor soltou um grito e Frederico imediatamente correu para acudir o filho.
O executivo sabia o que fazer.
Pegou o garoto no colo, levou-o até a mesa onde jantavam e colocou um pedaço de manteiga sobre a queimadura.
A manteiga derreteu e cobriu o ferimento.
Frederico respirou aliviado e com a sensação de missão cumprida, finalmente levou seu filho para a enfermaria do resort para que lhe fizessem um curativo.

Você já percebeu como é confortável ter certezas?
Elas nos dão segurança em praticamente qualquer situação.
Por exemplo, quando temos que agir rapidamente.
E quando precisamos fazer escolhas, arriscar algo novo, defender uma posição.
Certezas nos dão tranquilidade a respeito do que fazer.
Elas nos passam a sensação de controle do presente e de previsibilidade do futuro.

Além disso, certezas são as estruturas que suportam nossa autoestima e confiança.
E de quebra, podem nos dar a vantagem da liderança.
Junte algumas pessoas que precisem colaborar entre si e aquela que tiver mais segurança (leia-se mais certezas), provavelmente será a líder.
Ou seja, certezas são tão atraentes que até quando não as temos, tendemos a seguir alguém que as tenha.
É melhor a certeza alheia do que certeza nenhuma.

Esse apego acontece porque o cérebro não gosta de dúvidas.
Dúvidas requerem tempo e muita energia para serem processadas e esse trabalho diminui a eficiência do cérebro.
Além disso, diante do desconhecido estamos programados para sentir medo.
Medo de errar ou de sucumbir ao risco.
E quando essa emoção surge, nosso raciocínio perde a efetividade.
Podemos ficar inseguros, confusos e até mesmo paralisados pela dúvida – e pelo medo associado a ela.
Para completar somos invadidos pelos hormônios do stress e a sensação geral é muito ruim, tanto física quanto emocional.

Por outro lado, quando surge um problema e estamos seguros do conhecimento de que dispomos, tudo fica bem mais fácil.
Sabemos o que fazer.
Ou pensamos que sabemos.
De qualquer modo, atuamos de forma rápida e segura com base em nossas certezas.
E quando o resultado a que chegamos está de acordo com o que previmos, somos recompensados pelo cérebro com uma descarga de dopamina.
A sensação física resultante é muito agradável e a emocional é de prazer.

Oras, sendo penalizados nas dúvidas e recompensados nas certezas, é natural que inconscientemente persigamos estas últimas.
Se prestarmos atenção, passamos a vida armazenando informações para dar suporte a elas.
E nosso cérebro trabalha a maior parte do tempo no processo de construí-las.

Mas será que sempre podemos confiar nessas nossas certezas?
Provavelmente não.
Ou pelo menos não em todas.
Acontece que nem sempre verificamos a solidez das informações que as fundamentam.
Muitas vezes, por conveniência, confiança, tradição ou mesmo falta de opção, acabamos seguindo nossas convicções sem nem mesmo saber se são consistentes.

Frederico, por exemplo, tinha um problema urgente para resolver: a queimadura de seu filho.
Não sendo da área médica, ele usou uma informação que considerava segura e que provavelmente lhe foi passada por tradição, por alguém em quem confiava.
Passar manteiga na queimadura de seu filho era para ele uma providência de valor indiscutível.
Não exatamente – clique aqui para informar-se.
Frederico nunca se deu ao trabalho de verificar se essa informação era realmente válida.
Pensando bem, essa é uma crença que herdamos e nem sabemos direito que fundamento tem.
Ela simplesmente parece uma verdade inquestionável.
Uma das tantas a que recorremos – temos uma coleção delas.
E a história de Frederico mostra como podemos ser apegados às nossas certezas.
A ponto de esbarrarmos na negligência.

Na verdade, recorrer a certezas não confiáveis não é uma prerrogativa sua ou minha.
Dá para citar uma quantidade incrível de certezas históricas equivocadas que atrapalharam bastante a vida da humanidade.
Verdades científicas, tradicionais, religiosas, supersticiosas, preconceituosas.

Muitas foram baseadas no medo e/ou na ignorância.
Outras foram baseadas em premissas iniciais equivocadas.
Várias foram produzidas por má interpretação dos resultados.
E tem ainda aquelas que em um determinado momento foram de fato verdade mas cujas condições foram superadas e elas deixaram de fazer sentido.

Seja lá por qual motivo, o fato é que certezas equivocadas continuam a existir.

Se identificá-las já é difícil, superá-las pode ser um tremendo desafio.
Um desafio entretanto, que devemos estar dispostos a enfrentar porque os resultado valem muito a pena.
E contamos com bons exemplos na história para nos incentivar:

– Galileo Galilei quase foi para a fogueira por pregar o heliocentrismo.
– Louis Pasteur foi ridicularizado por sua nova teoria sobre micróbios que derrubava a teoria da geração espontânea aristotélica.
– Charles Darwin foi rejeitado por amigos e parentes por desafiar as crenças de sua época sobre a origem das espécies.

E para que este texto não se estenda exaustivamente, meus posts seguintes falam um pouco mais sobre certezas.

“Uma probabilidade razoável é a única certeza.” – Samuel Howe

Agradeço a paciência e interesse do leitor.
Mais sobre certezas confortáveis no próximo post.