Você já parou para pensar o que lhe causa medo ao enfrentar uma decisão difícil?

CalvinMedo2

Depende de cada um, eu suponho.
O que provoca medo em alguns, pode ser banal para outros.

Então vejamos…
Valentina foi dar uma varrida em volta da piscina.
A tempestade do dia anterior havia coberto o chão com folhas das árvores em volta.
O espaço mais sujo era o canto colado ao muro.
Ali, um ralo de piso havia sumido embaixo da imundice.
Valentina pegou a pá e a vassoura e foi lá desenterrar o dito cujo.
Na primeira vassourada que deu, conseguiu ver a grade do ralo.
Foi então que, para seu completo terror, um exército de baratas emergiu daquele buraco no chão.
Valentina quase teve uma parada cardíaca!
Olhou em volta e percebeu que para escapar dos insetos, sua única saída era pular na piscina.
Mas lembrou-se de que não sabia nadar e morria de medo de afogar-se.
Em pânico, Valentina não conseguia decidir o que fazer.

É evidente que um nadador que não teme baratas, definiria esse dilema como ridículo.
Portanto, medo parece ser um fator determinante quando precisamos decidir algo.
Em sua ausência qualquer escolha é fácil.
Uma vez despertado, decidir pode tornar-se um drama.

Mas do que realmente temos medo?
Independentemente dos riscos reais envolvidos e do quão estamos preparados para enfrentá-los, o que nos intimida é uma perspectiva muito específica.
A de que não suportaremos as consequências das decisões que tomamos.
Graves ou leves, profundas ou superficiais, não importa.
Suportar ou não o que nos aguarda, é um julgamento muito pessoal e na maioria das vezes, bastante subjetivo.

Como no caso de Valentina.
Suas alternativas eram pular na piscina ou passar por um mar de baratas.
Ciente de que não sabia nadar, Valentina julgou que poderia afogar-se.
Passar pelas baratas porém, não lhe exigia competência alguma – ninguém precisa ser assassino profissional para enfrentar insetos rastejantes.
Entretanto ela viu nesse enfrentamento uma ameaça tão insuportável quanto o risco de morrer afogada.

Ou seja, muitas vezes as consequências subjetivas podem parecer tão ou mais aterrorizante que as práticas.
E decisões aparentemente simples acabam se transformando em dramas sem solução.

É relativamente fácil compreender por quê.
Consequências práticas são majoritariamente antecipadas pela nossa razão.
E por isso conseguimos dar a elas um dimensionamento bastante próximo da realidade.
Oras, dimensões realistas nos permitem tomar uma série de providências objetivas.
Como nos prepararmos tecnicamente, procurarmos informações úteis e necessárias, solicitarmos auxílio especializado, etc.
Na verdade é fácil localizar, tanto na literatura quanto na Internet, várias dicas, sistemas, metodologias, etc, de como decidir melhor em função da análise prévia das consequências.

Entretanto ao anteciparmos riscos subjetivos, a situação se torna bem mais complexa.
Tanto a previsão quanto o dimensionamento desse riscos costumam basear-se quase que exclusivamente nas emoções* e não na razão.
E como já debati em posts anteriores, emoções podem distorcer enormemente o que enxergamos como consequências.
Medo em especial, costuma amplificar os possíveis resultados negativos, podendo gerar cenários muito assustadores.
Que com frequência são predominantemente fantasiosos quanto não totalmente irrealistas.

A grande dificuldade aqui reside em como lidar com isso.
Como lidar com cenários intimidadores, de contornos imprecisos e irrealisticamente dimensionados.

Parece um discurso abstrato mas se puxarmos pela memória, lembraremos de já ter enfrentado esses cenários algumas vezes na vida.
Especialmente quando tivemos que tomar uma decisão muito, muito difícil.

Ao contrário do que já propus antes, o objetivo deste texto não é sugerir alternativas para lidar com ameaças subjetivas.
O trago aqui é algo mais profundo.
É um convite à reflexão sobre nossos medos.
Sobre o quanto somos subordinados a eles.
Sobre o quanto eles já interferiram no nosso destino.
E provavelmente continuam interferindo.

Mas se isso parecer filosófico demais e vazio de objetivos práticos, então esse convite vai além.
Na verdade minha sugestão inclui elegermos um desses nossos medos.
Apenas um, não mais do que isso.
E então nos dedicarmos a estudá-lo de verdade.
Suas origens, mecanismos e desdobramentos.
Os porquês de nossa submissão a ele.
Para então podermos compreendê-lo.
E finalmente superá-lo.

Imagino quantas questões em nossas vidas, essa superação poderá solucionar.

Escolher esse caminho não é algo fácil e requer mais do que simples intenção.
Requer coragem para enfrentarmos alguns de nossos fantasmas mais antigos e possivelmente mais enraizados.
E que provavelmente nos assombraram durante toda a nossa vida.

Então além da coragem, talvez esse movimento requeira enfim, um passo de fé.

O fato é que a vida se torna muito mais fácil, rica e interessante quando superamos nossos medos.

“Sem os grilhões do medo, nada nos impede de alçar vôo nas asas do espírito humano.” – Maria Kost

Finalmente, para auxiliar nessa reflexão, nos próximo post trarei um desses nossos temores.
Um dos mais antigos, mais enraizados e que atinge a maioria dos seres humanos, indiscriminadamente.
Trata-se do medo do julgamento alheio.
Convido o(a) leitor(a) a lê-lo e quem sabe lhe seja útil na compreensão de seus próprios temores.

*Muitas vezes a intuição entra fortemente nesse processo.
Entretanto precisamos estar muito bem treinados para distingui-la do medo e só então, podermos levá-la prioritariamente em consideração.

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Agradeço a paciência e interesse de quem lê meus posts.
Pelo longo intervalo entre esta publicação e a anterior, esclareço que estes textos são publicados sempre em uma quinta-feira mas não necessariamente em todas.
A condição de publicação é que eu tenha produzido conteúdo que julgue realmente significante para quem se dispõe gentilmente a lê-lo.