Quanto você é capaz de se comprometer para ter a ilusão de que está feliz?

CalvinEuforiaT1
Felice conferiu as fichas e assentiu para o caixa do cassino.
Aquelas peças coloridas representavam o dinheiro que ele reservara para jogar.
Olhou para elas e sorriu como uma criança diante de um brinquedo novo.

Felice tinha fama de não economizar para se divertir.
Quando contou que iria a um cassino, os amigos decidiram alertá-lo para a possibilidade de ele passar dos limites.
Felice então, resolveu escutar os conselhos.
Definiu um valor máximo para jogar e chegou ao cassino disposto a respeitá-lo.

Foi conduzido a uma mesa especial de Black Jack, por conta do seu alto cacife.
A princípio sentiu-se intimidado pelos jogadores mais tarimbados.
Mas quando o dealer começou a dar as cartas, teve a certeza de que ia ganhar.
E as rodadas de Black Jack começaram a acontecer.

Em umas Felice ganhava e em outras, perdia.
Tudo parecia sob controle.

Um garçon serviu-lhe uma taça de Veuve Clicquot.
Ele resolveu beber devagar para não perder o controle.

Até que de repente, a sorte pareceu tê-lo escolhido.
Foram cinco rodadas seguidas em que ele quase dobrou seu cacife.
Felice ficou radiante.
Aquela era mesmo a sua noite.
O garçon veio servir mais champagne e ele pensou em recusar.

Foi quando uma ruiva deslumbrante aproximou-se sorrindo.
Apresentou-se como Loretta e pediu para acompanhá-lo na bebida.
Felice concordou extasiado e imediatamente providenciou uma taça para a moça.
Ele mal podia crer em sua situação.
Além de estar ganhando, a companhia da ruiva provocava inveja nos outros homens.
Loretta era muito sedutora.
Disse-lhe que estava ali para trazer sorte e Felice sentiu-se muito confiante.
Começou a beber mais, para acompanhá-la.
E também a apostar mais alto.

Então perdeu a rodada seguinte.
Era só uma rodada, lhe disse Loretta.
Mas na sequência, perdeu mais uma.
Loretta continuava a elogiá-lo e explicar que era assim mesmo.
Que a sorte o estava testando.
E Felice continuou apostando.
Até que suas fichas acabaram.
A essa altura o álcool já tinha amortecido seu bom senso.

Felice então procurou sua carteira.
Mas ao abri-la, lembrou de sua estratégia para não exagerar no jogo: pouco dinheiro e nenhum cartão de crédito.
Ficou irritado consigo mesmo.
Ao perceber desdém no olhar dos outros jogadores, anunciou que empenharia seu Patek Philippe junto ao cassino.
Alguém da casa autorizou.
A mesa vibrou.
Felice respirou aliviado e apostou que recuperaria seu capital.
Mas seu relógio virou pó na rodada seguinte.

Desolado e sem uma mísera ficha, sabia que seria convidado a se retirar da mesa.
Então usou sua última cartada.
Sua Alfa Spider 1932, pela qual havia pago uma pequena fortuna.
Sacou o documento daquela raridade e o jogou sobre o feltro vermelho.
Novamente a casa autorizou e ele foi saudado pelos pares.
Sentiu-se o máximo.
A sorte finalmente lhe sorria.
Dessa vez ele certamente iria ganhar.

Dá para imaginar o desfecho deste conto?

Ele mostra o quanto a sensação de felicidade pode ser envolvente e sedutora.
E o quanto ela pode nos cegar para as consequências do que estamos dispostos a fazer para alimentá-la.

Na verdade se observarmos bem, não é a felicidade que provoca más decisões.
São os sentimentos derivados dela que o fazem.
Ou seja, aquelas sensações de bem estar provocadas pela conquista dos valores que uma sociedade cultua.
Sensações essas das quais resistimos a abrir mão, custe o que custar.

Então vamos ver algumas dicas de como abrir os olhos para o que não queremos ver.

1.Conscientize-se de que sua vaidade é um dos seus pontos fracos para alguém tirar proveito de você.
Vendedores(as),  propagandas,  aproveitadores(as), aduladores(as) , todos invariavelmente apelam para ela.
Portanto, se você vai tomar uma decisão, se achando o máximo graças ao discurso de alguém, analise se a vantagem que a pessoa pode obter da sua decisão, é proporcional àquela que você vai obter dela.
2.Lembre-se de que otimismo em excesso pode ofuscar a realidade.
Vantagens excepcionais, ganhos fora do comum, sorte exagerada, podem ser um alerta, principalmente se sua decisão tem a ver com disponibilizar seu patrimônio e/ou seu prestígio.
3.Toda vez que sua felicidade depender de você oferecer algo em troca, abra os olhos.
Estamos falando de  chantagem.
Ela pode vir na forma do(a) outro(a) se mostrar frágil, carente ou aparentemente mais generoso(a) que você.
E espera que você prove sua afeição, amor, consideração, compartilhando suas finanças, bens ou seu prestígio.
A questão é: você vale pelo que é ou pelo que oferece?
4.Preste atenção no alerta de seus(suas) amigos(as) confiáveis.
É normal que, quando você vai decidir algo insano por estar cegamente feliz, um(a) amigo(a) tente alertá-lo(a).
Vá conversar com ele(a), desarmado(a)
Vá conversar com mais de uma pessoa, se tiver dúvidas.
5.Não caia na tentação de pensar que seu caso é diferente das armadilhas que você conhece por aí.
A probabilidade de que seja diferente é pífia.
6.Se você quer arriscar um ato impensado que vai deixá-lo muito feliz, avalie as piores consequências e previna-se contra elas.
Peça ajuda a alguém de confiança para fazer essa análise e realmente tome providências para lidar com o pior cenário.
Afinal, jogar-se de cabeça na felicidade é ótimo.
Desde que estejamos prontos para as possíveis consequências.

“A felicidade é qualquer coisa que depende mais de nós mesmos, do que das circunstâncias e das eventualidades da vida.” – Julio Dantas

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