Quantas vezes você deixou de tomar uma decisão, por medo?

Descrever o mecanismo do medo não é tarefa fácil.

Medo é um mecanismo instintivo de reconhecimento de ameaça, real ou virtual.
Sua função é identificar e evitar o perigo e não, enfrentá-lo.
Ele aguça seus sentidos para a avaliação e reconhecimento do risco, mas não para a ação.
Ou seja, medo é uma espécie de freio para você não atuar onde haja perigo que possa ser evitado.

Assim, diante de uma ameaça potencial, medo é o mecanismo que identifica o risco.
Em seguida lhe diz se você está em desvantagem ou em vantagem.
Se estiver em desvantagem, ele induz você a não agir, a fim de que a ameaça não se concretize.
Exemplo: subo ou não no carrinho da montanha russa?
Se você tem medo, não sobe e a situação ameaçadora não se materializa.

Por outro lado, se o medo identificar que você está em vantagem, ele diminui.
Este recuo é fundamental para dar lugar a outros mecanismos de atuação.
Exemplo: subo ou não no palco para cantar no karaokê?
No primeiro momento, você tem medo.
Mas a seguir detecta que a ameaça pode ser superada – está em vantagem.
O medo dá lugar ao sentimento de desafio e este impulsiona você a enfrentar a situação.

Portanto, medo é um mecanismo de proteção que age exclusivamente fazendo você não se expor ao risco.
Ou seja, medo originalmente provoca a sua inação.
Isto significa que quando o perigo é iminente e inevitável, medo não é o mecanismo para você reagir.
Exemplo: tem um leão correndo na sua direção.
Sentir medo aqui, não serve para você se defender ou fugir.
Serve somente para impedir que você enfrente a fera.
Em outras palavras, serve exclusivamente para evitar que você aumente o risco.
Para você fugir, é necessário que o medo dê lugar a outros mecanismos de ação.
Neste caso, o instinto de sobrevivência.

Consequentemente, quando a ação é necessária, é vital que o medo dê espaço a outros mecanismos estimulantes.
É justamente neste ponto que podemos ter problemas.
Se o medo que sentimos estiver intenso demais, ele fatalmente irá nos prejudicar.
Começará por não dar espaço para nada que nos estimule a reagir adequadamente, incluindo o bom senso e a razão.
E poderá terminar nos imobilizando.
Essa disfunção do medo normalmente está ligada a experiências traumáticas anteriores, diretas ou indiretas.

Medo provocado pela memória de um trauma anterior, tende a desabilitar a análise crítica da ameaça presente.
Nessa situação, você não analisa o risco porque sua memória é mais rápida para fornecer as informações conhecidas sobre o perigo.
Então você automaticamente o classifica com base no risco gravado em sua experiência anterior.
Seu cérebro dá o alarme e o medo dispara para o nível registrado originalmente.
Acontece que no evento que o marcou, você certamente estava em grande desvantagem.
Provavelmente foi pego de surpresa, sem mecanismos para se defender e sem nenhuma estratégia atenuante.
Oras, entre aquele cenário e o atual, você provavelmente desenvolveu muitas competências.
Teve tempo de desenvolver estratégias para enfrentar aquela situação.
Está mais velho, mais experiente e mais sábio.
Está muito mais apto a se defender e sua desvantagem diante daquela ameaça diminuiu muito, se é que não foi superada.
O medo baseado em trauma anterior, entretanto, não leva seu progresso em consideração.
Ele apenas recupera seu nível de pânico registrado na experiência original.
O resultado é que você recua ou até paralisa, sem ao menos analisar corretamente suas novas opções e prováveis vantagens

“A única coisa que devemos temer é o próprio medo.” – Franklin Delano Roosevelt

Oras, o que mais usamos para tomar uma decisão, são as experiências que acumulamos.
Com toda a bagagem de emoção que elas trazem.
Por isso, decisões em cenários ameaçadores tendem a ser ruins.
Muitas vezes péssimas.
Ao decidir sob influência do medo, seu bom senso, sua razão e sua inteligência muito provavelmente estarão desabilitados.
E há grandes chances de você não conseguir analisar adequadamente os prós e contras das escolhas envolvidas.
Dependendo do nível de stress, você poderá inclusive deixar de decidir.
A questão é que o medo direciona você a evitar o próprio medo.
O que pelo seu mecanismo de atuação, significa esquivar-se ou mesmo fugir do problema que o gerou.
Medo não procura soluções para ameaças já instaladas (quem faz isso é a razão e a inteligência).
Para piorar esse cenário, temos a tendência a esconder o medo, pelo próprio receio de sermos julgados.
Com isso, é frequente justificarmos nossas más decisões, omissões, protelamentos e até fuga.
O que nos permite insistir nelas.
E agravar nossos problemas em um círculo vicioso.

Então como evitar que o medo tome as rédeas de nossas decisões importantes?
A resposta está sempre em dar condições de atuarem o bom senso, a razão e a inteligência.

Como fazer isso, é o conteúdo do próximo post.