Fabio estava longe der ser um cara perfeito, mas tinha uma inteligência brilhante.
De origem humilde, superou em muito as possibilidades que seu contexto de vida sugeria.
Imigrante italiano, filho de modestos artesãos da Toscana, surpreendeu seus pais aprendendo tudo o que lhe caía nas mãos.
Melhor que isso, colocava em prática seus novos conhecimentos na primeira oportunidade que se apresentasse.
Sua mãe me contou que, ainda criança, Fabio ficou maravilhado com um barquinho tocado a vapor
Como eles não tinham dinheiro para comprá-lo, o menino descobriu como aquilo funcionava e fez um para si mesmo.
E na adolescência, já órfão de pai, saiu de uma aula de física e resolveu motorizar a máquina de tecer que eles haviam trazido da Itália.
Fabio sempre surpreendia.
Eu mesma testemunhei seu toque de gênio incontáveis vezes.
Era pequena quando o vi solucionar de vez o problema de ferrugem das molas da carreta de sua lancha.
E automatizar o suprimento de água dos ferros a vapor de sua empresa em uma época em que isso era manual.
Fabio era simplesmente genial.

Fabio era meu pai.
Vi este pai dar soluções engenhosas para um sem número de situações, de corriqueiras a complexas sem distinção.
Não precisava de muita coisa para ele se mexer.
Bastava que enxergasse um desafio técnico e lá estava meu pai criando uma solução.
Era como se fosse impelido por uma incessante curiosidade.
Uma curiosidade que o movia a pensar e chegar a respostas inovadoras que lhe permitissem evoluir o mundo em que vivia.

Minha mãe por outro lado, pragmática como uma saxã, dizia que meu pai era movido a preguiça.
E explicava com clareza sua posição.
Boa parte do que meu pai fazia, segundo ela, era para se liberar de atividades desinteressantes que lhe tomavam tempo.
Como quando automatizou a máquina de tecer da mãe dele, já que quem a pilotava era ele.
Ou quando resolveu o problema de ferrugem da tal carreta, já que era ele que fazia a manutenção periódica.

E para mostrar imparcialidade, minha mãe ia além.
Dizia que os grandes avanços da humanidade tinham sido mesmo movidos a preguiça.
A roda, por exemplo, diminuiu muito o esforço do ser humano.
E por analogia as máquinas, os computadores, o controle remoto, o delivery e por aí vai.
Eu achava essa ideia divertida e muitas vezes até pensava que tinha algum fundamento.
Daí inventei de refletir a respeito, inclusive para saber até que ponto isso fazia sentido.
E o cenário que vi parece desmentir minha mãe de uma forma muito entristecedora.

O que moveu a humanidade em direção às grandes descobertas?
Por que chegamos à lua?
Bom, se me lembro bem, por medo.
Medo de que o time de malvados do planeta chegasse lá antes de nós.
E por que inventamos a Internet?
Se não me engano, também por medo.
Medo de que os bandidos destruíssem o sistema de comunicação dos mocinhos.
Parecem assuntos tendenciosos?
Vamos além.
Por que, agora como humanidade, queremos chegar a outro planeta?
Que tal, por medo daquele fatídico dia em que o sol vai explodir e nosso planeta vai virar cinzas?
E voltemos aos problemas comezinhos…
Por que estudamos muito e procuramos nos capacitar?
E por que nos matamos de trabalhar?
Que tal, por medo da concorrência tirar nosso emprego?

Posso fazer centenas de perguntas, em centenas de situações diferentes.
Apesar das heroicas exceções, a verdade é que somos uma civilização movida a medo.
Medo de epidemias que movem as descobertas da medicina, medo das guerras que movem parte do desenvolvimento tecnológico, medo de sucumbir à concorrência que move outra parte dessa evolução.
E medo do aquecimento global que move os governos, da fome que move parte da ciência, da corrupção que move… – será que move seriamente alguém?
Claro que nesse oceano planetário de gente amedrontada, há um pequeno exército de gente inspirada.
Mas são poucos e às vezes penso que uma hora, eles vão desistir…

Assustador, não acha?
Nesse ponto eu preferiria que minha mãe estivesse certa e que a preguiça fosse mesmo o grande motor da humanidade.
Talvez desse preguiça nos corruptos, nos exércitos, nos micróbios, nos concorrentes predatórios…
Talvez por comodismo, as ameaças sumissem e nós pudéssemos parar de sentir medo.

Mas como eu creio que, no limite, a preguiça nos levaria a um paraíso fofinho e sem graça, que tal uma sugestão mais instigante?

Que tal substituirmos o medo pela curiosidade?
Vamos estimular nossos filhos e netos a serem curiosos!
A aprenderem cada vez mais pela segurança e tranquilidade que o saber traz.
A investigarem as ciências pelo maravilhamento das descobertas inéditas.
A crescerem como pessoas pela sensação incrível de se descobrirem seres humanos melhores.
Vamos aumentar o exército de gente inspirada!
Não é nada difícil, está ao nosso alcance e podemos começar hoje mesmo…!
E claro, vamos eu e você dar o exemplo e ser generosos e igualmente curiosos…
Vamos nos inspirar e fazer parte desse exército também!
:)

Desejo a todos um Feliz 2018 !!!

Agradeço como sempre, a quem pacientemente lê meus posts.
E espero que este seja realmente um post inspirador…
Seus comentários serão bem-vindos ;)