A tristeza já impediu você de tomar uma decisão?

 

 

Tristeza é a emoção mais delicada do ser humano.
A mais delicada e por isso a que mais desperta empatia.
Apesar disso, é comum nos isolarmos quando estamos tristes.
Na era das redes sociais onde tudo tende a se mostrar perfeito, revelar tristeza pode parecer arriscado.
Entretanto, não temos como evitar que ela surja em nossas vidas.
E já que é inevitável, vamos começar por entender seus mecanismos.
Assim, ao menos nos momentos de decisão, poderemos lidar melhor com essa emoção.

Tristeza é a reação às nossas perdas mais significativas.
Podem ser perdas materiais, emocionais ou mesmo de uma ilusão do que poderia ter sido.
Para entender por que ela doi, vamos olhar o que acontece em nosso cérebro.

Todas as nossas experiências de vida estão registradas em nossa memória.
Acontecimentos, família, amigos, trabalho, casa, nosso animal de estimação, etc.
Esse registro se dá por meio de ligações químicas neurais.
Portanto os neurônios são as estruturas onde o cérebro armazena tudo aquilo que nos acontece.

Segundo a neurociência, a emoção é um fator muito importante na fixação dessas informações.
(O lugar mais legal para você ver isso é no filme Divertida Mente da Pixar Disney)
Quanto mais forte a emoção, mais viva e fixa será a memória associada a ela.
E mais: quanto mais complexa a relação que você tem com essas informações/pessoas/coisas, mais complexa é também a estrutura neural associada.

Por exemplo, digamos que você tenha dois cachorros, Rex e Dino.
Você os adquiriu juntos e conviveu com os dois durante alguns anos.
Um belo dia você decide levar Rex para o sítio e manter Dino em casa.
No momento de sua decisão, seu afeto pelos dois cães é exatamente igual.
Dali para a frente entretanto, com o afastamento de Rex, sua conexão com cada um deles passará a se diferenciar.
O convívio diário com Dino provocará o crescimento da estrutura de memória associada a ele.
Rex distante, não provocará a mesma evolução neural.
Com o tempo inclusive, algumas memórias associadas a ele poderão desaparecer.

Portanto, a fixação das memórias depende da frequência das experiências, em combinação com as emoções associadas.

Quando você tem uma perda, grande parte da estrutura neural associada ao que você perdeu precisa ser desfeita.
Como se a estante onde aquelas informações estavam guardadas tivesse que ser parcialmente desmontada.
Esse é um processo bastante traumático para o cérebro, principalmente se a perda não puder ser substituída.

Então vamos supor que Dino, por força da idade, venha a falecer.
Como ele deixou de existir, grande parte da estrutura neural conectada a ele terá que ser desmontada.
Não são as memórias do que já aconteceu que precisam ser apagadas.
São as das rotinas automáticas entre vocês dois que precisam ser desligadas.
Porque simplesmente não vão mais acontecer.

É esse desmonte de estrutura neural que doi.
Doi porque é de fato, uma perda física.
Você tem que desmontar aquele núcleo de ligações neurais e o cérebro se ressente muito disso.
Na verdade o cérebro trata esse desmonte como morte de uma parte dele.
E entra em stress e sofrimento.

A reorganização de seu cérebro em consequência da perda, leva tempo.
Normalmente um processo de recuperação de trauma dessa natureza dura de seis meses a dois anos.

O que pode ajudar?
Outras demandas alternativas de ocupação de seu cérebro costumam ser de muita ajuda.
Atividades que despertem seu interesse e que coloquem sua mente para construir outros núcleos de memória.
Você pode não ter como substituir essa sua perda.
Mas pode encontrar outros interesses que estimulem seu cérebro a criar estruturas novamente.
Assim ele deixa de pensar que está morrendo.

Por outro lado, quando as perdas que você tem são substituíveis, a situação é mais fácil.
Vamos supor que você perca o emprego.
Vai lhe causar grande stress e sofrimento.
Mas quando você achar um emprego novo, o cérebro se ocupará em registrar essa nova experiência.
Ao ocupar-se, ele se sentirá vivo.
E você deixará de sofrer.
É por isso que dizem que para superar um amor, só encontrando outro.

Voltemos aos efeitos da tristeza.
Em seu estado puro, mesmo lidando com perdas, tristeza não pede reparação.
Não nos faz agir intempestivamente e nem correr atrás de vingança.
Ela nos deixa frágeis e nos leva ao recolhimento e reflexão.
Em casos extremos, pode nos levar à total paralisia.

E muitas vezes a tristeza não pode ser superada em curto espaço de tempo.
Às vezes nem em médio.

Então o que fazer quando você está triste demais para decidir?

“A tristeza é um muro entre dois jardins.” – Khalil Gibran

Inevitavelmente, temos que contar com o bom senso.
Nosso e talvez o de mais alguém em quem confiemos.

Como fazer isso, é objeto de nosso próximo post.