Você conhece a opinião dos outros a seu respeito? Ou pensa que conhece?

calvinmedo92

Loredana era uma menina esperta, inteligente e decidida.
Única mulher entre os oito netos de seus avós, cresceu entre primos e irmãos, todos homens.
Loredana sabia bater figurinha, empinar pipa e andar de carrinho de rolimã, tudo pacientemente ensinado pelos rapazes.

Na escola, era a melhor aluna da classe e as outras crianças penavam para seguir seu ritmo.
Apenas um ou outro menino se alinhava a ela.
Quanto às suas coleguinhas, Loredana não se sentia estimulada a brincar com elas.
As atividades femininas lhe pareciam pouco interessantes.
E as garotas não a acompanhavam, quer nas brincadeiras de menino, quer em seu bom trânsito no meio deles.
Um dia, vendo sua impaciência com uma amiguinha, seu pai lhe disse que a continuar assim, seu destino seria ficar sozinha.
“As meninas não alcançam você e os meninos têm medo de garotas inteligentes”, ele disse.
Impressionada, a menina gravou aquilo fundo em sua memória.

O tempo foi passando e Loredana virou mulher.
Bonita e educada, parecia ter tudo para ser um sucesso social.
Porém mostrava-se sempre muito reservada e não desenvolvia grandes laços de amizade.
A convicção de que intimidava as pessoas a fazia crer que era inútil tentar ganhar o afeto de alguém.
Mesmo assim, Loredana namorou e casou.
E passou a relacionar-se com as esposas dos amigos de seu marido.
Entretanto a sensação de que essas mulheres se sentiam desconfortáveis em sua presença sempre a acompanhava.
E quando anos depois, resolveu se divorciar, percebeu que não tinha feito nenhuma amiga entre elas.
Separada e sem filhos, Loredana viu-se absolutamente sozinha, conforme seu pai havia previsto.

Foi então que ela resolveu fazer algo por si mesma.
Decidiu desafiar seu destino e conseguir amigos.
Como estratégia para isso, pensou que o melhor seria resgatar os colegas da escola.
Mesmo que nenhum deles tivesse se interessado em manter sua amizade, essas pessoas ao menos a conheciam.
Talvez alguém tivesse guardado boas lembranças dela.

Um jantar de 30 anos de formados era um ótimo motivo para reunir sua classe de colegial.
Loredana encontrou o album de formatura, pegou a lista telefônica e começou a procurar sua turma.
Enquanto fazia isso, vários medos passaram por sua cabeça.
E se não se lembrassem dela?
E se ficassem constrangidos pela sua ousadia?
E se recusassem seu convite?
Não estava segura do que dizer e nem como dizer, quando finalmente localizou o primeiro nome.
Dorival.
Agora era definitivo.
Teria que pensar em alguma coisa.
Concluiu que deveria ligar para ele e ser ela mesma.
Na verdade, pensou, se isso o intimidasse ela tentaria o próximo.
E se intimidasse a todos, paciência.
Ela ao menos teria tentado.
E não perderia nada que já não tivesse perdido ao longo de sua vida.

Surpreendentemente, ao falar com Dorival, foi muito bem atendida.
Além de lembrar-se dela, ele entusiasmou-se com seu convite e lhe forneceu acesso a mais 4 ou 5 colegas de classe.
Loredana entrou em contato com eles e o fenômeno de boas-vindas e multiplicação se repetiu.
Ao cabo de quinze dias ela tinha uma lista de 48 confirmados para seu evento.
Um mês depois Loredana recepcionava seus antigos novos amigos em um jantar memorável.
E após um ano, ela já liderava uma comunidade de mais de 700 ex-alunos de sua escola.
Em resumo, tornou-se uma referência naquele grupo, como líder, agregadora, divertida, acolhedora e muito animada.
Ganhou o afeto de todos e é claro, montou um círculo de amizades que se mantém unido até hoje.

A história de Loredana não é a mais comum mas é a outra face de uma moeda conhecida.
A maioria de nós, ao se sentir ameaçada pela perspectiva do julgamento alheio, atua para evitá-lo.
Frequentemente fazemos o que não queremos e deixamos de fazer o que deveríamos.
Aceitamos o que nos incomoda e nos submetemos a pessoas indesejáveis.
Fingimos não ver situações absurdas e convivemos com injustiças sem reagir.
Em resumo, cedemos para agradar aos outros.
Para evitar julgamentos.
Para sermos aceitos.

Loredana, por outro lado, não tinha ilusões a respeito do que poderiam pensar dela.
Ela sabia o que os outros pensavam.
Havia recebido como definitivo e geral, o julgamento que seu pai lhe tinha feito quando era pequena.
Loredana tinha convicção de que não era bem-vinda.
E de que nada havia que ela pudesse fazer a esse respeito.
Então passou a vida sem agradar ninguém.
Não cedeu, não flexibilizou, não investiu nas pessoas e nas amizades.
Norteou sua vida pela convicção de que, já que intimidava a todos, era melhor não correr o risco de tentar ser aceita.
Portanto ela também tinha medo do julgamento alheio.
No caso dela, por ele ser conhecido, inflexível e imutável.

Mas que espécie de julgamento é esse, afinal?
Como escapamos da submissão a ele?
A história de Loredana mostra que isso não é tarefa fácil.
Ela só conseguiu virar esse jogo quando considerou já não ter mais nada a perder.
Então resolveu arriscar.
E encontrou uma realidade muito diferente da que imaginava.
Algumas pessoas se lembravam dela como uma menina inteligente e esperta.
Outras, como uma garota discreta e séria.
Teve quem a achasse falante e divertida.
E teve quem lembrasse dela como durona porém gentil.
Mas o que a maioria falou de interessante é que era difícil fazer amizade com ela.
Porque ela passava a impressão de que se intimidava com as pessoas.
E parecia estar sempre fugindo delas ou mantendo-se a uma distância segura.

Enfim, Loredana materializava as consequências de um julgamento alheio que só existia em sua imaginação.
Afastava as pessoas por acreditar que elas não tinham uma boa opinião a respeito dela.
Estava enganada.

E quanto a nós?
Vamos ter que esperar não termos mais nada a perder para deixarmos de ser submissos ao que acreditamos ser a opinião dos outros?

Por enquanto convido o leitor e fazer essa reflexão.
No próximo post, vou apresentar algumas considerações sobre o valor da opinião alheia.
Quem sabe cheguemos a uma conclusão interessante a respeito disso tudo.

“O valor que damos à crítica dos outros é proporcional ao medo de que ela seja real.” – Maria Kost

Agradeço o interesse e paciência do leitor.
Como sempre, comentários, críticas e sugestões serão bem-vindos.