Você percebe quando vai enfiar o pé na jaca? Ou só descobre depois que já sapateou nela?
Clementina estava cansada demais para sair e Aquiles não gostou.
Já andava desconfiado da namorada e aquilo foi a gota d’água.
Sem acusar o golpe, Aquiles mostrou-se compreensivo.
Disse que iria encontrar um amigo em comum e desligou o celular.
Em vez disso, resolveu tomar as providências cabíveis.
Pegou o carro e foi até o churrasco da turma.
Ele sabia que Jean, o cara que estava pegando sua namorada, estaria lá.
Quer dizer, provas ele não tinha mas estava absolutamente certo da traição.
Ou melhor, ele não tinha certeza mas desconfiava, pois Jean dava em cima de Clementina descaradamente.
Ou talvez não tão descaradamente, mas enfim, Aquiles estava irritado.
Chegando ao churrasco, encostou o sujeito em um canto e passou a exigir satisfações.
A princípio, Jean pareceu surpreso.
Em seguida pediu calma.
Quando Aquiles o empurrou, Jean revidou e Aquiles acabou apanhando.
Amarrotado e humilhado, Aquiles foi intimado a deixar a festa.
Saiu de lá direto para a casa da namorada, que a essa altura já sabia da briga.
Para seu espanto, ela não quis recebê-lo.
Estava cansada das repetidas cenas de ciúmes de Aquiles.
Com mais essa, ela resolveu terminar o relacionamento sem o menor remorso.
Ou…
Após dizer que iria encontrar o amigo, Aquiles desligou o celular.
Em vez de sair de casa, deitou no sofá e remoeu as possibilidades.
Então decidiu que, para sua segurança, iria vigiar Clementina.
Pegou o carro, estacionou a 3 quarteirões do prédio dela e aproximou-se do edifício a pé.
Escondeu-se atrás de uma árvore e esperou.
Por horas…
A cada carro que saía do prédio ele se perguntava se ela estaria dentro, escondida.
Já ia amanhecer quando voltou para casa.
Cansado e convencido de que ela tinha dado um jeito de sair sem que ele a visse.
No dia seguinte, mentiu para Clementina, dizendo que tinha estado com o amigo.
Fez o amigo mentir também…
A namorada sentiu que tinha algo errado e o ambiente começou a pesar.
Aquiles “sabia” que ela lhe escondia algo e atribuiu o mal estar à mentira.
Foram três semanas de discussões sem motivo.
Os ressentimentos aumentaram e eles deram fim ao relacionamento, acusando-se mutuamente.
Ou…
Aquiles desligou o celular.
Ligou para o amigo e acabaram indo ao churrasco da turma.
Lá ele se distraiu, chegou mesmo a se divertir, voltou para casa e dormiu.
No dia seguinte resolveu conversar com Clementina.
Colocou suas questões e ela colocou as delas.
Não foi fácil expor suas verdades.
Menos fácil ainda, escutar as dela.
Depois de uma conversa difícil, os dois finalmente chegaram a um entendimento.
E eu não sei se ficaram juntos.
Você já vai saber o motivo.
Essa história é baseada em episódios reais.
E então vamos ver o que cada um deles mostra.
No primeiro, o medo se mistura com a raiva e claro, Aquiles enfia o pé na jaca.
Ele não quer saber o que realmente está acontecendo – medo.
Só quer fazer alguém pagar pela sua dor – vingança.
No segundo, o medo predomina e sim, Aquiles enfia o pé na jaca mas discretamente.
Toma uma atitude indesculpável às escondidas.
Continua sem querer saber a verdade e mantém o círculo vicioso de medo e perseguição.
No terceiro, Aquiles tem medo e pode até estar com raiva.
Mas resolve enfrentar a situação.
E para isso, adia o confronto para refletir e atuar com inteligência.
E sobre o que ele teria que refletir?
Não está claro se Clementina traiu Aquiles ou não.
Não está claro porque não é relevante.
Se Clementina de fato o traiu, isso é só o sintoma de um problema sério entre os dois.
Então o relevante é Aquiles perceber que seu relacionamento com Clementina não está bem.
E que a responsabilidade é tanto dele quanto dela, não importa quem faça o quê.
Se um abusa é porque o outro não colocou limites.
Se um tem sérias dificuldades emocionais, o outro escolhe permanecer ao seu lado.
Portanto cabe a Aquiles fazer a sua parte para mudar esse jogo.
Ou sair dele.
Fazer a sua parte não é achar um culpado.
Ou vigiar Clementina para evitar que ela o traia.
Fazer sua parte significa enfrentar os problemas em vez de fugir deles.
Conversar honestamente com Clementina é a melhor saída para Aquiles.
Ainda que esclarecer os fatos e lidar com a realidade seja bem difícil.
Difícil sim, porém mais fácil do que lidar perpetuamente com os fantasmas criados pelo medo.
Aquiles pode ter a chance de desfazer mil mal-entendidos com a namorada.
E dali construir uma relação bem melhor.
Ou…
Pode ver que Clementina prefere permanecer no jogo.
Ou que não é capaz de sair dele.
Ou que nem reconhece a parte dela e responsabiliza o próprio Aquiles por tudo.
Neste caso, Aquiles não pode mudar Clementina.
Ele só pode tomar atitudes construtivas para si, não importa o que Clementina diga ou faça.
Portanto, se eles ficam juntos ou não, depende do resultado da conversa.
Uma coisa é certa: juntos ou não, certamente o melhor caminho é concluir que é hora de sair do jogo.
“A vida é muito curta para ser pequena.” – Benjamin Disraeli
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