Você já tomou decisões equilibradas e depois se arrependeu de não ter chutado o pau da barraca?
Serena decidiu divorciar-se de Leonardo.
Conversou com os filhos, chamou o advogado e optou pelo divórcio consensual.
Na divisão de bens, levou aquilo que a lei determinou.
Além da metade do patrimônio comum, obteve a pensão alimentícia dos filhos.
Não conseguiu pensão para ela própria por ter curso superior.
Seu status financeiro piorou mas ela preferiu ir cuidar da própria vida do que continuar casada.
Um mês depois, seu ex-marido desfilava de namorada nova, carro novo e sorriso novo.
Ou…
Serena chamou o advogado e moveu processo de divórcio litigioso.
Acabou com a imagem de Leonardo junto aos filhos, família e amigos.
Gastou um monte de dinheiro, tempo e energia.
Conseguiu tirar dele, a empresa que ele comandava.
Não conseguiu pensão relevante para os filhos porque ficou com a empresa.
Gerou uma vendetta eterna entre o ex-marido e ela.
Um ano depois, faliu a empresa conquistada porque não sabia administrá-la.
Seus filhos não podiam mais contar com o pai porque ele estava recomeçando sua vida profissional.
Ou…
Serena pensou no futuro financeiro seu e de seus filhos.
Na partilha de bens, decidiu chamar Leonardo para compor-se com ele.
Propôs continuar como sócia capitalista na empresa.
Cedeu aqui e ali, avançou acolá e além e depois de muita negociação, concluiu um ótimo acordo.
Leonardo ficou tão satisfeito que resolveu bancar os dois filhos estudando no exterior.
É claro que essa história deve ser muito mais complexa.
Mas uma das opções é um fato real e ela responde à minha pergunta inicial.
Os três desfechos descritos mostram que Serena tinha, a princípio, dois problemas para resolver.
Um era o prático, material – divorciar-se do marido e definir os prejuízos e ganhos decorrentes.
O outro era o emocional – o medo das perdas, a raiva da situação, a tristeza do fim, etc.
Percebe-se que, em grande parte, o problema emocional é consequência do material.
A primeira e fundamental decisão que Serena teve que tomar foi qual dos problemas solucionar primeiro.
Resolver o material seria uma questão a ser trabalhada pelo bom senso e razão.
Isso costuma ter começo, meio e fim.
E com inteligência e estratégia, Serena poderia inclusive ter uma solução muito boa.
Entretanto, solucionar o emocional seria bem mais complexo.
Requereria no mínimo, intenção de resolver, dedicação, ajuda muito bem habilitada e tempo.
Normalmente, muito tempo.
Enquanto isso, o problema prático persistiria.
A experiência mostra inclusive, que poderia agravar-se de maneira dramática.
Parece-me óbvio que a melhor estratégia seria cuidar primeiramente dos problemas práticos.
Eles são basicamente a causa dos problemas emocionais.
No entanto não é isso que tendemos a fazer.
As emoções se apoderam de nós e partimos para as soluções passionais mágicas ditadas pelo estado emocional.
Então como vamos passar a dar prioridade ao bom senso em vez de chutar o pau da barraca?
“É preciso termos muito bom senso para sentirmos que não temos nenhum.” – Pierre Marivaux
Optar por decisões pensadas e não passionais, requer acreditar em alguns princípios:
1. Decisões sempre têm a ver com optar por algo e abrir mão de outro algo.
Você não pode ter tudo e portanto, não existe decisão que atenda a todas as suas expectativas.
2. Tomar uma boa decisão tanto pode significar optar pelo maior ganho como também, pela menor perda.
A arte de tomar decisões difíceis está em balancear corretamente perdas e ganhos.
E inclui sentir-se um vencedor inclusive quando o melhor retorno obtido for a redução das perdas.
3. É somente pelo bom senso, razão e inteligência que se chega à melhor decisão.
Você pode correr o risco de usar sua intuição, desde que sua experiência garanta que ela dá bons resultados.
4. Decisões equilibradas resolvem, em grande parte, os problemas emocionais decorrentes.
Em compensação, problemas emocionais historicamente seus não serão solucionados ali.
Pela experiência, decisões equilibradas tendem a ser reforçadas pelos seus próprios resultados positivos.
E mais: com a prática você tende a melhorar sua análise de perdas e ganhos.
Consequentemente, a qualidade e os resultados de suas decisões equilibradas também melhoram.
Entretanto, você pode sim, decidir que chutar o pau da barraca compensa.
Desde que esteja realmente consciente das consequências e muito bem preparado(a) para arcar com elas.
O desfecho real da história narrada é o segundo.
Serena de fato, chutou o pau da barraca.
E se arrependeu imensamente por isso.
Confessou-me que se soubesse o que sabe agora, teria ficado satisfeitíssima com a primeira versão.
Mesmo assistindo ao ex-marido desfilar de namorada nova um mês depois do divórcio…
Leonardo por sua vez, por amor aos filhos, chegou a propor uma composição patrimonial com Serena.
Mas ela não aceitou sequer discutir essa hipótese, tomada pela raiva como estava.
Leonardo se refez e pagou de fato, o estudo dos filhos fora do Brasil.
Mas nunca perdoou Serena.



Muito bom Cris, já vi coisas parecidas. Vc trouxe uma boa discussão pois as pessoas nos momentos de grandes mudanças emocionais, tem prejudicada sua capacidade de decisão racional!!!
Obrigada Na verdade este é um momento de instabilidade geral e nós precisamos manter a cabeça no lugar. De desequilibradas já chegam as decisões dos políticos….. Grata pelo seu comentário! Bjs