Você consegue decidir com equilíbrio quando está muito triste?

CalvinTriste11

Laura entrou na quadra de vôlei confiante.
O jogo valia a medalha de ouro dos Jogos da Primavera e ela era a grande revelação do time.
As outras jogadoras a olhavam com admiração.
Laura estava feliz.
Por coincidência aquela partida acontecia no dia de seu 13º aniversário.
Seu time já estava convidado para sua festa e todas esperavam uma dupla comemoração.

O juiz apitou e a disputa começou.
As duas equipes pareciam muito confiantes.
O jogo mostrava-se duríssimo e cada ponto marcado arrancava gritos das torcidas.
Laura sentia o peso de ser a principal atacante do time.
Aos 45 minutos do tie-break, o placar indicava tensos 16 x 16.
Foi quando surgiu à sua frente o levantamento perfeito.
Laura saltou, levantou os braços, puxou o cotovelo direito para atrás e cortou.
Sentiu os dedos estalarem e entrou em pânico.
A bola estava ligeiramente mais alta do que seus cálculos.
Bateu em seus dedos e desviou para o fundo do ginásio.

Incrédula, Laura olhou primeiro para onde a bola foi parar.
Depois para o placar.
E finalmente para os rostos decepcionados de suas colegas.

Ponto para as adversárias.
Era o fim do jogo.
O fim do campeonato.
O fim da sua consagração.

Foi como um raio caindo em sua cabeça.
Seus olhos marejaram.
A dor em sua mão se misturou à vergonha pelo erro inacreditável.
Como uma flecha, Laura fugiu da quadra direto para o vestiário.
Agarrou suas coisas e saiu do ginásio sem olhar para trás.

Seus pais a encontraram no estacionamento chorando de dor e decepção.
Foram direto para o atendimento médico.
Laura não falava.
Só sentia as lágrimas quentes rolando pelo seu rosto, a mão direita inchada pela luxação.
Seu celular tocava insistentemente.
Eram as meninas do time querendo saber dela.
Não atendeu a nenhuma delas.

Chegou em casa com a mão enfaixada e trancou-se no quarto.
Sua mãe não sabia o que fazer.
Sua festa de aniversário esperava por ela e logo suas coleguinhas da escola chegariam.
Mas Laura não conseguia vencer a tristeza e a frustração.
De uma só tacada, tinha perdido o campeonato, as amigas e a reputação.
Ninguém iria perdoá-la…
Sua vida agora parecia cinzenta e desesperançada.
Era melhor ficar no quarto do que enfrentar aquele mundo cruel…

Esta é uma história quase ingênua mas simbólica.
Retrata com simplicidade, os efeitos dramáticos que a tristeza pode gerar.
Ela nos tira a energia, a autoconfiança, a vontade de reagir e muitas vezes, a autoestima.
Ela pode acabar com nossas esperanças.

Não é fácil reagir a esse quadro.
Principalmente quando temos que decidir e o tempo é um fator critico.

Sugerir que você use a razão e o bom senso pode parecer insensível.
Mesmo assim, seria bom que você olhasse meus posts da Raiva e do Medo.
As sugestões dadas ali podem lhe ser úteis.

E o que mais dá para acrescentar de específico?

Cuide de você:
1. Leve sua tristeza a sério.
Chorar relaxa o cérebro.
Então chore quando tiver vontade e peça a quem está em volta, discrição e respeito.
2. Se você é do tipo que perde o apetite quando está triste, coma alimentos que lhe dêem muito prazer.
Deixar de se alimentar adequadamente faz cair o metabolismo e pode piorar muito a tristeza.
3. Afaste-se de pessoas e situações negativas.
Você não precisa negar sua tristeza mas também não precisa agravar seu estado emocional com problemas alheios.
4. Cuide de seu amor próprio.
Dê a si mesmo(a) o conforto e os cuidados que você daria a seu(sua) melhor amigo(a) nessa mesma situação.

Ainda na área da razão (leia meu post anterior para estas sugestões fazerem sentido):
5. Lembre-se de que o luto da tristeza tem um tempo médio para acabar.
Um horizonte de tempo para seu sofrimento pode acalmar a sensação de que a tristeza não tem fim.
Ela tem, acredite nisso.
6. Lembre-se também de que seu cérebro precisa ocupar-se com algo construtivo para superar a tristeza.
A construção de uma boa decisão, necessária nesse momento, pode ocupar seu cérebro e tirá-lo do estado de sofrimento.

Se tudo o que você fizer for insuficiente para ajudá-lo(a) a tomar sua decisão, não hesite em pedir ajuda!
7. Cerque-se de pessoas que o(a) amem de verdade e peça colo.
Não tenha medo de mostrar sua tristeza.
Quem gosta de você ficará feliz em lhe dar suporte e afeto  e você se sentirá valorizado(a) e revigorado(a).
8. Escolha alguém de extrema confiança e delegue a solução de seu problema.
Você pode escolher alguém ou pedir para seus amigos que o(a) ajudem a selecionar essa pessoa.
Provavelmente quem está emocionalmente equilibrado terá mais condições de indicar um solucionador de problemas para você.

Na verdade, tristeza é a emoção que mais debilita o ser humano.
Ela é o sintoma de um luto interior seu que precisa ser cuidado.
O consumo energético para suportar esse luto justifica que seu cérebro não tenha energia para solucionar outras demandas com competência.
Portanto você fará bem em reconhecer seus limites e perceber que pode não ser a hora de exigir demais de si mesmo(a).

“É na limitação que se revela o mestre.” – Johann Goethe

Então peça ajuda a quem você confia.
Além de empatia, você vai despertar também admiração pela sua coragem em se confessar frágil.

Se você tiver algo a comentar, por favor, sinta-se à vontade.
Será um prazer ter suas impressões a respeito de meu texto.